domingo, 23 de agosto de 2009

É de tal forma que não estou para sermões

Domingo. Tenho uma espécie de alergia às missas. Quando era criança, vivia em Lisboa, tive uns tempos na catequese, mas a única fase que me recordo de ir semanalmente à missa limitou-se ao tempo de frequência no Colégio S. João de Brito durante a pré-primária e 1ª classe. Durou pouco tempo, portanto. Já nas habituais férias de Verão nos Açores, na casa dos meus avós maternos, a regularidade tendia para o constante. A minha avó delirava com a ideia de ver todos os seus netinhos (muitos) a irem em fila indiana à missa todo o santo Domingo de manhã. Quase que me saltava uma lágrima dos olhos sobretudo porque me fazia perder os desenhos animados. O ideal era mesmo aparecer umas dores de barriga repentinas.
Hoje em dia só me apanham em missas de casamentos, baptizados ou funerais. E deste rol, obviamente não gosto particularmente de ir a estas últimas, mas também não ficam atrás as de baptizado porque aquilo nunca mais acaba. São logo quantas criancinhas de uma vez? 4, 6, 10? (alto lá que eu adoro crianças)

Sermão_1:Missas-que-dão-sono
Por mais atenta que tente estar a ouvir as leituras e sermões do padre, facilmente me desconcentro. Eu juro que faço um esforço. Mas dá-me sono. Para ser absolutamente honesta, a minha atenção ao padre e ao seu discurso é rapidamente desviada para apreciar os ornamentos e apetrechos das Igrejas, os tecidos dos cortinados, as flores, o tecto (esse tipo de coisas) e ainda observar as pessoas presentes, a forma como estão vestidas e calçadas, a olhar ligeiramente para o lado, para trás, falar baixinho com a vizinhança, de tal forma que dou por mim e já perdi o fio à meada. É preciso ter muita sorte para o discurso me cativar. A sério. A grande parte das vezes é uma seca. Não há pachorra para sermões ultrapassados. E depois, inovação no arengo e na forma de o transmitir é coisa que não existe. E pronto, o sermão acaba e eu nem sequer sou capaz de o resumir ou expor a lição de moral.

Sermão_2:Missas-para-dar-beijinhos-forçados
O ritual que dispenso inteiramente é a "Paz de Cristo". A mensagem "somos todos irmãos, respeitem-se, amem o próximo", e ora toca tudo a dar beijinhos ao pessoal do perímetro. Dou por mim a matutar que não me recordo de assistir a uma missa e ter tido alguma vez a espantosa sorte de estar rodeada de jeitosos, para neste momento emocionante que é dar beijinhos, o ritual me tenha sabido agradavelmente bem. Aliás, ou me calha dar beijinhos a pessoas que me são familiares (e portanto não é nada de novo) ou àquela senhora viúva de bigodinho por fazer e que se baba em saliva para cumprir o ritual. Portanto,
esta cena dos beijinhos pode ser um mega castigo infernal! Escolher muito bem os vizinhos numa missa é uma tarefa absolutamente importante! E agora então, ir à missa é mesmo de evitar! Se há local bom para apanhar uma baita Gripe A, pode ser uma Igreja. By the way, terá a igreja temporariamente encerrado este ritual nas missas? Era uma medida preventiva muito bem pensada. Oh se era… Acreditem no que vos digo. Dava direito a uma salva de palmas e tudo (fora da Igreja, claro). E parece-me que não está incluída aqui.

Sermão_3:Missas-ginasticadas-e-eu-não-fui-treinada-como-um-cavalo-de-corridas
É um tal observar quem sabe o momento certo de cada passo de ginástica e imitá-los. Ginástica por ginástica de movimentos senta e levanta, senta e levanta, ajoelha, baixa a cabeça, agora levanta, prefiro pagar para ir ao ginásio fazer máquinas ou mesmo aulas de step, aeróbica, localizada ou fitball. Ao menos posso fazer os exercícios com mais conforto com a bela sapatilha calçada nos meus pés de Cinderela do que estar a fazê-lo na maioria das vezes em saltos tão altos não aconselhados para momentos parados em pé, que além de piorarem as varizes podem causar tonturas a quem sofre de vertigens. As vantagens do senta e levanta, ajoelha, baixa a cabeça, agora levanta, deste evento resumem-se a não se deixar adormecer por completo, esboçar um sorriso à monotonia e dar algum ritmo à coisa. O senta também não preza muito pelo bem-estar, já que os bancos de madeira são rijéééérrimos! O ajoelha pode valer umas boas nódoas negras, sobretudo no Verão. O baixa a cabeça e depois levanta pode causar algum torcicolo.

Sermão_4:Missas-não-sei-a-maior-parte-das-rezas
Sei a parte inicial de algumas. Depois é uma desgraça. Nestas alturas, três estratégias que posso adoptar: ou finjo que faço playback de uma reza que não sei, tentando gesticular os lábios para que se assemelhem o melhor possível aos gestos de boca sintonizados com as palavras correctas (e isto filmado é triste, muito triste de se ver) ou baixo a cabeço para que os cabelos tapem a minha boca, ou simplesmente mantenho a posição normal da cabeça, fecho a boca, rezo para que a prece seja curta, o tempo voe e ninguém olhe para mim, enquanto eu vou admirando as figuras dos outros e rindo cá para dentro. Não haja dúvidas que levo bastante mais jeito para decorar números. A tabuada sei-a de cor e salteado.

Sermão_5:Missas-em-que-não-comungo
Bom, se nesta altura ainda não fugi do banco, limito-me a apreciar o acto e esperar que o mesmo termine… Pois... pelos vistos cometi muitos e variados actos que a Igreja chama de “pecados” (nem queiram saber) desde a minha primeira e única confissão da vida, quando celebrei a Primeira Comunhão. Esta fi-la eu uns 4 anos depois da idade mais normal e de forma diferente da usual, novamente numa dessas férias de Verão nos Açores por obrigação dessa minha avozinha que muito me chiou os ouvidos com tanta insistência. E num belo dia de Sol, lá fui eu e a minha mana do andar de baixo, todas santinhas, à Igreja local, depois de uma tarde na praia, confessar os pecados (“sim, eu de vez em quando não me porto muito bem e...e...e..e também digo palavrões”). Pronto, prontíssimo. Lá assinalei o evento da Primeira Comunhão no calendário e adicionei-a ao meu CR (Currículo Religioso). E nada de pirosos vestidinhos e sapatinhos de cetim, de velas catitas ou de sessão fotográfica para mais tarde me envergonhar da fatiota que me puseram. Graças a Deus.

Sermão_6:Missas-em-que-choro-não-pela-emoção-do-sermão-mas-sim-pela-emoção-da-razão-que-me-leva-a-elas.

Sermão_7:Missas-em-que-destilo-ou-gelo
Eu bem sei o que já destilei em certas e determinadas missas devido ao calor insuportável que se faz sentir no interior da Igreja durante o Verão. Nem em 45 minutos a malhar no ginásio sou capaz de destilar tanto. De Inverno, a coisa também não melhora: a Igreja é um gelo e com direito a levar com chuviscos (espirros) dos outros.

Sermão_8:Missas-que-não-gosto-do-cheiro-ambiente
Aquele cheiro a mofo misturado com abstinência... Por isso, antes de ir para uma missa perfumo-me da ponta dos pés ao cabelo para que seja esta fragrância a prevalecer.

Sermão_9:Missas-higiene-para-que-te-quero
Padre sem luvas ao dar a hóstia.
Água benta parada. Mas pronto, segundo este artigo, parece que já fizeram umas alterações (pelo menos por agora), apesar de não haver as melhores condições para o sugerido.

Sermão_10:Missas-que-nem-sempre-contam-com-a-actuação-do-coro-da-Igreja
Costumo gostar de ouvir o coro das igrejas a cantarem durante as missas. É bonito de se ouvir. A chatice é que nem sempre actuam. Apenas nos resta o coro das tosses para nos alegrar: basta um começar a tossir que se segue logo um rosário aflito e desarmonioso dos constipados (tal e qual como uma matilha: quando um cão começa a ladrar, sucede-se o ladrar dos outros todos). Também há espirros, nem sempre em coro, e os ruídos do assoar para um lenço de papel. Todo este estrépito chega a ser aflitivo e a juntarem-se ao coro da tosse, vem, em pleno Inverno, acelerar vivamente a propagação das constipações e das gripes. E mais uma vez referindo a Gripe porcina, parece que não é muito conveniente ir à missa.

Sermão_11:Missas-não-dou-trocos
Não sou adepta de dar gorjetas a pseudo arrumadores de carros, nem a pedintes de rua, nem mesmo aos meninos que passam com a bolsinha “mealheiro” pelo corredor da igreja. E a razão é sempre a mesma: não sei se estou a “alimentar” necessidades primárias...

E depois temos notícias com este título (in Visão): "Distribuir preservativos não é solução, diz Bento XVI"; com este conteúdo: "Não se pode resolver (o problema da sida) com a distribuição de preservativos", disse o Papa aos jornalistas a bordo do avião da Alitália que o levará até Yaounde, nos Camarões. Acrescentou que, "pelo contrário, a sua utilização agrava o problema". Esta é a primeira vez que Bento XVI fala explicitamente no uso de preservativos. A Igreja Católica, que se afirma na linha da frente do combate à sida, encoraja a abstinência para impedir a propagação da doença". Missas assim, com "opiniões" destas, tenham a santa paciência, mas para mim, não. O sair da igreja que deve ser feito com calma, sem pressa nem atropelos, sem barulho nem tumulto, respeitando os irmãos que também estão a sair, é tarefa difícil de cumprir. Eu não vou à missa com a missa, que é como quem diz eu não simpatizo com ela. A missa é um sacrifício…mesmo*! E exactamente por ser um sacrifício, eu evito-a. Já menos sacrificante (apesar de eu também não o fazer), é aproveitar as novas tecnologias, ligar o PC, conectar-me ao Youtube Vaticano, permanecer deitada na cama a assistir à missa celebrada pelo Papa, directamente de Roma.
E aquela expressão popular de "roupa de Missa" ou "roupa de Domingo" como sinónimo da melhor roupa que se tem, para mim também não se aplica. Deve ser o dia em que menos uso a melhor roupa que tenho. Assim de repente não me recordo de ter algum amigo ou amiga na base de dados que vá regularmente à missa, mesmo que sejam crentes e católicos. Pelos vistos os “contagiados” são mais que muitos. Enfim, eu acho que ir à missa está um bocado em vias de extinção e que alguém devia fazer alguma coisa. Por esse motivo criei o movimento “Vá à missa, mas com protecção” (assim já não vou para o inferno, pois não?), cujos donativos deverão ser depositados ou transferidos para um NIB a anunciar. AMEN.


 
*Carlos Ramalhate says: “A Missa é um Sacrifício., ou melhor dizendo, é O Sacrifício que nos reconcilia com o Pai - o Sacrifício de Cristo na Cruz - tornado novamente presente diante de nós para nosso bem.”

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